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Quando o Sujeito se Apaga para Que o Projeto Viva

  • pastorsantinel
  • 13 de mai.
  • 2 min de leitura

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Empreender, liderar, produzir, entregar, estar presente, ser referência. Em meio a essas exigências, muitos empreendedores e profissionais se veem atravessados por um imperativo silencioso: “não pare”. E quando parar se torna um tabu, o corpo acaba falando — com exaustão, insônia, crises de ansiedade, falta de sentido. Esse esgotamento tem nome: burnout. Mas na perspectiva psicanalítica, ele não é apenas um colapso físico ou mental. É o colapso de um sujeito que se perdeu na tentativa de corresponder a um ideal inalcançável.


O burnout, mais do que excesso de trabalho, é o efeito de uma lógica subjetiva regida pela tirania do Ideal do Eu. Trata-se de uma montagem psíquica onde o sujeito só se permite existir na medida em que realiza, entrega e supera. O desejo, nesse modelo, deixa de ser articulado a partir da singularidade e passa a ser colonizado por promessas externas: reconhecimento, autonomia, sucesso, liberdade — todos vendidos como prêmios do empreendedorismo, mas, muitas vezes, recebidos com uma fatura emocional altíssima.


A cultura do empreendedor não admite falhas, e a do profissional de alta performance tampouco. São espaços onde se aprendeu que mostrar cansaço pode significar fraqueza, e pedir ajuda é sinônimo de incompetência. Assim, o sujeito se isola. Trabalha até tarde, delega pouco, internaliza tudo, e se orgulha do próprio sacrifício, como se a dor fosse uma medalha silenciosa de mérito.


Mas o corpo não mente. E quando o psíquico é ignorado, ele responde com sintomas. A perda de motivação, a apatia, a sensação de vazio — tudo isso aponta para um sujeito que, no esforço de manter o “negócio” ou a “carreira” funcionando, se desinvestiu de si mesmo. É o paradoxo do burnout: o sujeito se apaga para que o projeto continue brilhando.


Na clínica psicanalítica, não tratamos o burnout apenas com descanso. Descansar é necessário, mas não é suficiente. É preciso reconstruir a escuta interna: o que, de fato, é meu desejo? Onde estou me exigindo além do que posso sustentar? Por que me sinto culpado ao parar? Essas perguntas não têm respostas prontas, mas marcam o início de um retorno do sujeito a si mesmo.


Mais do que curar sintomas, a proposta é reposicionar o desejo. Romper com o gozo da exaustão — esse prazer inconsciente em se ultrapassar — e reencontrar uma ética de cuidado que não se confunda com improdutividade. Afinal, o trabalho pode ser espaço de realização, sim. Mas quando deixa de ser expressão do sujeito e passa a consumi-lo, já não é trabalho: é cárcere.

 
 
 

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