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Gaslighting Religioso nos Relacionamentos

  • pastorsantinel
  • 13 de mai.
  • 2 min de leitura

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“Você está exagerando.”

“Isso é coisa da sua cabeça.”

“Você precisa orar mais, porque o problema está no seu coração.”

Essas frases, à primeira vista, podem parecer simples discordâncias ou conselhos espirituais. Mas, repetidas sistematicamente, podem ser a arma sutil de um mecanismo perverso: o gaslighting — uma forma de abuso psicológico em que o abusador distorce a realidade para fazer a vítima duvidar da própria percepção, memória e sanidade.


No contexto de relacionamentos afetivos marcados por religiosidade, esse abuso ganha uma camada ainda mais cruel. O agressor instrumentaliza a fé para silenciar, culpar e deslegitimar o sofrimento do outro. Passagens bíblicas são citadas fora de contexto, promessas espirituais são usadas como chantagem emocional, e a submissão é apresentada como virtude absoluta, mesmo diante de injustiças e violência psíquica.


A mulher que se queixa da frieza emocional ou do descaso afetivo ouve: “Você precisa ser como a mulher virtuosa de Provérbios 31.”

O marido que demonstra cansaço ou frustração é acusado: “Você precisa ser mais espiritual, mais cabeça do lar.”

Em ambos os casos, o que está em jogo não é orientação espiritual, mas a manutenção de um poder desequilibradodisfarçado de direção divina.


Na psicanálise, o gaslighting é uma operação que busca destituir o sujeito de seu saber sobre si mesmo. A vítima passa a duvidar do que sente, do que pensa, e até de sua própria fé. O resultado é devastador: culpa, confusão, submissão silenciosa e, em muitos casos, depressão e adoecimento psíquico.


A teologia bíblica, no entanto, não sustenta esse tipo de manipulação. Jesus jamais anulou a dor do outro. Ao contrário: Ele olhava, escutava, acolhia, mesmo quando a religião institucional tentava calar os marginalizados. Quando alguém usa a fé para invalidar a dor do outro, está mais próximo dos fariseus do que do Cristo.


É necessário, portanto, discernir entre fé que liberta e fé que aprisiona. A verdadeira espiritualidade não elimina o conflito, mas o reconhece e o transforma. Um relacionamento que usa o nome de Deus para apagar a verdade do outro não é um relacionamento baseado no amor — é um sistema de controle.


Resgatar-se do gaslighting religioso é também um ato de fé. Fé no Deus que nos chama à verdade, que nos convida a amar com justiça e que jamais exige que anulemos quem somos para manter uma aparência de santidade.

 
 
 

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